quinta-feira, 5 de maio de 2011

É difícil correr mais que sayovo

Mais abaixo está uma entrevista que fiz ao guia de José Sayovo. Tentei sair do normal, que seria uma peça com o próprio Sayo.


Abel Mariti, o guia
É difícil correr mais que Sayovo

Entrevista: Álvaro Victória
Fotos: Ampe Rogério



José Armando Sayovo é um nome sonante do atletismo mundial para portador de deficiência. São várias as medalhas de ouro somadas em uma década de competição internacional. As mais recentes foram conquistadas no mundial da Turquia, no qual Sayovo foi «dirigido» por Abel Mariti. Em entrevista ao NJ, o guia revelou que, apesar dos 38 anos, Sayovo ainda tem «pernas» para dominar as pistas.
Em 2007 Abel Mariti foi convidado para servir de guia de José Sayovo, aquando da preparação para os Jogos Paralímpicos da China, em 2008.
Mariti tinha a difícil tarefa de substituir Manuel Marques, que «guiou» Sayovo ao brilharete dos Jogos Paralímpicos de Atenas, na Grécia, com a histórica conquista de três medalhas de ouro.
A primeira dificuldade para o guia veio do próprio Sayovo, que pretendia que a dupla de Atenas não fosse mudada, uma «novela» que ganhou espaço e mediatização na média.
A forma física que apresentava Manuel Marques constituía, segundo a equipa técnica e a direcção do Comité Paralímpico Angolano, um perigo para a defesa das medalhas conquistadas na China. Por conseguinte, Sayovo foi obrigado a render-se e a aceitar um novo desafio de ser guiado por Mariti.
O primeiro desafio da «dupla» foram os Jogos Paralímpicos da China, em 2008, em que José Sayovo foi superado pelo brasileiro Lucas Prado, que conquistou três medalhas de ouro.
O angolano ficou com as medalhas de prata. Alguns consideraram como uma «tempestade» a sua prestação, embora Sayovo a considerasse de «positiva».
Contudo, a «abundância» não tardou em chegar. A «dupla» esteve em grande este ano no mundial da Turquia, conquistando duas medalhas de ouro e uma de prata.
José Sayovo conquistou as medlhas de ouro nos 200 metros, com o tempo de 24 segundos e 22 décimos, e nos 400 com 53.49 e a prata nos 100 metros, com o tempo de 11.72.
Foi um momento ímpar para Abel Mariti:
«É a recompensa do trabalho de equipa que realizámos, há três anos».
O corredor do Interclube, de 34 anos, recebeu do Governo da Província de Luanda uma casa no Zango e mais dois mil dólares.



Caixa 1
Marcas equilibradas
A marca é um pressuposto importante para se definir o guia de um atleta paralímpico. Como é óbvio, o guia deve correr mais que o atleta.
Entretanto, a diferença entre as marcas de Mariti em relação às de José Sayovo são mínimas, o que demonstra a potencialidade da velocidade do atleta paralímpico.
Para os 400 metros, por exemplo, o corredor do Interclube precisa de 49 segundos, apenas menos um segundo em relação ao record de Sayovo nos Jogos Paralímpicos de Atenas.
«Sayovo tem uma velocidade capaz de enfrentar atletas normais. A cada treino, sinto a necessidade de melhorar a minha marca, de forma a estar em condições de o guiar», referiu.
Mariti realçou que o guia tem um importante papel nas pistas e deve cumprir algumas regras, sob pena de um mínimo erro ser fatal para o atleta:
«É necessário concentração do início ao fim. Não nos podemos adiantar nem atrasar».
O atleta revelou-nos que durante a corrida mantém Sayovo actualizado sobre as características do piso, as curvas e as posições dos concorrentes:
«Partimos com uma velocidade moderada. Eu controlo os concorrentes à esquerda e ele à direita. Aviso-o quando nos aproximamos das curvas. Aceleramos quando nos avizinhamos da meta».
Como qualquer outra modalidade, Abel Mariti disse que o segredo do sucesso está nos treinos:
«Cada terreno é uma mudança. A corrida de acesso à final é feita com gestão rigorosa dos esforços. Temos que ter em conta que precisamos de nos apurar. Mas é necessário sabermos que a etapa derradeira está para vir. Por isso precisamos gerir convenientemente os esforços».


Caixa 2
Sayovo está «em dia»
Com 38 anos, José Sayovo ainda possui forças para correr e continuar a ser dos primeiros a cortar a meta, como afirma o próprio guia:
«É um atleta com uma postura física espectacular. Ainda tem muito para dar».
Mais reservado, Sayovo realçou que a idade já lhe vai pesando e que tem pensado na «aposentação»:
«É um destino obrigatório. Estou preocupado com a minha substituição. Infelizmente temos registado poucos talentos, capazes de assegurar os níveis já alcançados pelo atletismo angolano».
A «jogar» na antecipação, Sayovo e Mariti já trabalham para a conquista do ouro nos Jogos Panafricanos, que terão lugar em Moçambique e que servirão de antecâmara para as Paralímpiadas de Londres, na qual pretendem repetir os êxitos.

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